Viação Itapemirim 10255 em São Paulo por Antonio Aleixo - ID:7532373

Aí está uma das fotos que eu fiz na Rodoviária do Tietê, antes de uma viagem para Ipatinga. Eu me lembro bem daquele dia: era final de ano, e eu havia comprado passagem para o antigo horário das 16:00h. A intenção era aproveitar a luminosidade do dia para tirar algumas fotos na plataforma, antes de embarcar. Cheguei por volta das 15:00h; meu ônibus sairia de uma daquelas últimas plataformas, na mesma calçada onde fica o desembarque. Para a minha decepção, não me deixaram passar às plataformas. Fiquei desolado; olhei para um lado, para o outro, maquinando o que fazer. Fui andando pela calçada dos taxistas, de cabeça baixa e pensativo, procurando algum lugar onde pudesse ver os ônibus. Quem me via, devia desconfiar: "o que esse moleque com cara de susto estará procurando?" Vale lembrar que, naqueles tempos, o hobby de observar e fotografar ônibus era uma coisa nova, estranha, e que a mim, pelo menos, causava muita vergonha e embaraço. Odiava ter que responder a perguntas como: "pra que você tira tantas fotos de ônibus?" "o que você está querendo com isso?" Estávamos longe dos tempos em que se formariam pequenas aglomerações na saída do terminal, clicando e filmando o movimento. Internet, sites como esse, então, nem na nossa mais audaciosa imaginação! Olhei o relógio; já passava das 15:00; dali a pouco, meu ônibus encostaria e a minha vergonha não me permitiria passear por todas as plataformas tirando fotos. Pensei em ir até a avenida Cruzeiro do Sul, mas achei que seria pior; havia muita gente, e eu arriscava me atrasar. Lembro que não tinha chegado mais cedo para não ter que justificar em casa: "estou indo com antecedência porque quero fotografar ônibus antes de embarcar!" Ai, como eu odiava ter que responder a essas perguntas! Pois, às vezes, quando se está quase desistindo de algo que se quer muito que, como mágica, uma solução se apresenta. Pois foi exatamente isso que ocorreu, e com um misto de decepção e angústia, eu vi uma oportunidade se abrir: bem ali, antes daquela rampa que vai dar no guichê de saída, havia um lugarzinho vazio sem viva alma de guarda ou de funcionário da limpeza. Não pensei duas vezes; como um clandestino que precisa agir rápido, antes de ser pego, saltei para cima do canteiro, pus minha sacola de viagem no chão, saquei a velha Yashika manual analógica da minha mãe, e comecei a clicar tudo o que passava na minha frente. Já era perto de 15:30, e eu tinha pouco tempo. Por sorte, e a sorte tem me tocado nos momentos de maior necessidade, passaram coisas interessantíssimas, saídas de tempos já bem passados, mesmo para aqueles idos de 1993. Era como se as plataformas escurecidas pelo contraste da luz do dia fosse o próprio túnel do tempo, me oferecendo presentes. "Você veio aqui para agarrar seu passado, não foi? Não precisa roubá-lo como um clandestino; eu te dou de graça!" Uma das prendas que ganhei do tempo foi esse Diplomata 2.60, Mercedes O-355/6, que acabara de chegar de Campina Grande. Vinha na pintura nova, do Tribus III, que eu não apreciava, mas tudo bem! Era um daqueles que eu trazia na memória desde os meus sete anos, em 1983, à beira da Rio-Bahia, lá em Santa Rita de Minas, MG. Acredito mesmo que esse daí talvez seja cria do ano de 1982, mas não posso afirmar com certeza. O escritor norteamericano Gore Vidal costumava dizer que há dois tipos de oportunidades que não se deve deixar passar, porque nunca se sabe quando se apresentarã outra vez: uma oportunidade de fazer sexo e uma oportunidade de aparecer na televisão. Sem querer estragar o dito espirituoso de Vidal, eu adicionaria mais uma: uma oportunidade de clicar um ônibus saído da nossa infância. Apareci na televisão uma vez na minha vida (aos sete anos, no Clubinho da Tia Dulce, na TV Alterosa, de Belo Horizonte); o outro tipo de oportunidade, eu deixo em off. Agora, naquele dia de dezembro de 1993, eu arrisquei levar uma bronca, mas agarrei a oportunidade e registrei meu último encontro com um Diplomata 2.60 da Itapemirim. Gore Vidal estava certo; aquela conjunção feliz de coincidências, que é isso a que chamamos de "oportunidade", nunca mais se repetiu...